sábado, 10 de novembro de 2012

A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL








A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

 

A Inglaterra foi o palco das maiores transformações nos meios de produção, a partir de meados do século XVIII. Tudo começara com as trocas comerciais com as colónias inglesas, já no século anterior. As matérias-primas eram submetidas a transformações em unidades industriais situadas junto dos grandes rios, para aproveitar a força motriz da água. A revolução industrial alargou-se à França, à Alemanha, aos EUA e ao Japão, ainda no século XIX. Portugal conheceu alguma industrialização junto das principais cidades, em boa parte por influência dos ingleses que por cá tinham ficado, após as invasões francesas no início do século XIX.

Com a descoberta da máquina a vapor, em 1777, a indústria libertou-se e expandiu-se de modo imparável. Construíram-se grandes fábricas nos arredores das cidades que atraíam multidões de operários, muitos deles vindos dos campos, onde a agricultura mal oferecia a subsistência. O carvão, combustível tradicional, começou a ter uma grande procura, o que levou à sua exploração mineira.

Em 1859, descobriu-se na Pensilvânia (EUA), um líquido espesso que ardia facilmente - era o petróleo. A pouco e pouco, este combustível fóssil tornou-se a principal fonte de energia industrial até aos nossos dias. A partir de então, é costume falar-se da 2ª revolução industrial com grandes unidades industriais siderúrgicas a produzirem ferro e aço para responderam às exigências dos meios de transportes barcos de grande calado e comboios com uma rede de caminhos de ferro a ligar rapidamente, cidades distantes. Novas descobertas científicas, como a da eletricidade, impulsionaram mais e mais o desenvolvimento que não diminuiu, mesmo em épocas de crise económica, como a da grande recessão e nas duas guerras mundiais do século XX.

 

A ideologia dominante da Revolução industrial era o liberalismo, na fidelidade ao ideário francês. O burguês, dono da fábrica, propunha aos operários, livremente um horário de trabalho (por vezes de mais de 15 horas diárias) com salário magro oferecido livremente. Se o operário aceitasse as condições que lhe eram oferecidas não se beliscava o ideal de liberdade da Revolução. Foi sempre fácil aos poderosos inventar sofismas para justificar seja o que for.

 

A REVOLUÇÃO FRANCESA









 
A REVOLUÇÃO FRANCESA

 
VOLTAIRE, ROUSSEAU, MONTESQUIEU – SINTESE DO IDEÁRIO DA REVOLUÇÃO: LIBERDADE, IGUALDADE E FRATERNIDADE

 

 O absolutismo, que caracterizava a maior parte das monarquias europeias no século XVIII, aumentou o fosso que separava o povo da nobreza. O rei de França Luís XIV apelidava-se rei-sol e vivia faustosamente, bajulado por uma infinidade de nobres decaídos, que não souberam aproveitar as vantagens da descoberta e conquista de novas terras. Além disso, tinha privilégios que os isentavam de impostos. O povo tinha de pagar pontualmente as suas contribuições, houvesse ou não escassez de colheitas. O resultado era a fome e a miséria, em fermentação para a revolta. A burguesia ia-se aproveitando do desinteresse dos nobres pelo comércio, pela indústria nascente e até pela agricultura nos feudos herdados, e, por isso, dominava a economia e a finança, embora não tivesse poder político.

Houve três pensadores franceses que se notabilizaram na luta contra esta situação e deram um contributo ideológico, importantíssimo para minar as estruturas anacrónicas do absolutismo. Voltaire (1694-1778), desmontou o orgulho racionalista, e a hipocrisia absolutista em obras de grande valor literário. Dotado de grande clareza e ironia mordaz, analisa a alma humana que considera mais dependente dos sentimentos e dos condicionalismos sociais que da sã razão. O seu pequeno livro, Cândido, defende de modo aliciante a tese de que a vida humana depende das fatalidades, da sorte e das incoerências do destino - tantas vezes cego e indiferente aos que se comportam de acordo com as prescrições da moral.

Rousseau (1812-1867) dessacraliza a origem divina do poder e defende que a bondade natural do homem foi corrompida pela sociedade. O «bom selvagem», (personalizado no Emílio) é livre como o vento e ao decidir viver em sociedade celebra um contrato com esta, abdicando de parte da sua liberdade por troca dalguma segurança pessoal e dos seus bens.

Montesquieu (1689-1755) celebrizou-se pela sua obra Espirito das Leis, onde defende a divisão dos três poderes, por organismos autónomos e independentes: legislativo - que deve resultar da ampla discussão das leis em Assembleia; executivo - que deve incrementar a governação na fidelidade ao que está legislado; judicial - a que cabe dirimir os conflitos, no respeito pela lei.

A síntese do ideário da Revolução - Liberdade, Igualdade e Fraternidade - baseia-se nestes três pensadores.

 O dia 14 de julho de 1789, marca o início da Revolução Francesa com tomada da Bastilha (prisão célebre de Paris) pelo povo, farto de ser escravizado. A Assembleia constituída por representantes do povo e da burguesia, toma posições radicais acerca da situação vigente. Retira os privilégios aos nobres e ao clero. O rei Luís XVI é deposto e mais tarde decapitado, juntamente com a rainha Antonieta.

A revolta estendeu-se, como um incêndio incontrolável, a toda de França, que atravessou um período muito conturbado, conhecendo até alguns anos de regime do Terror.

De início, o povo teve um papel preponderante na revolução. Depois, como sempre, seria apenas o testa de ferro da burguesia que, assim, conseguiu adicionar o poder político ao poder económico.

A Revolução Francesa marca o fim do Ancien Régime, que ainda tinha as marcas vincados da Idade Média nas divisão da sociedade em hierarquias estratificadas e com o poder do rei a provir diretamente de Deus. Um dos melhores frutos da Revolução foi a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.

O espírito revolucionário espalhou-se por todas as nações da Europa, onde o absolutismo dominava. Portugal apenas conheceu a sua revolução liberal, limitadora do poder real, em 1820, apesar do rei, D. João VI, estar no exílio dourado no Brasil desde 1807, fugindo das Invasões napoleónicas.

 


 

DO ABSOLUTISMO AO ILUMINISMO









DO ABSOLUTISMO AO ILUMINISMO:

KANT, RAZÃO TEÓRICA, RELATIVISMO KANTIANO, RAZÃO PRÁTICA, NOÇÃO DO DEVER, O IMPERATIVO CATEGÓRICO

 

 Kant (1724-1804), filósofo alemão, começou por aderir às teses dos racionalistas. No entanto, ao analisar as críticas do empirista inglês David Hume às noções de metafísica e ao princípio de causalidade «despertou do sono dogmático» em que a evidência da metafísica o tinha induzido e construiu uma teoria alternativa - o idealismo transcendental. Segundo os racionalistas, o conhecimento do mundo exterior fundamenta-se na nossa razão; segundo os empiristas, são os sentidos que fundamentam todo o conhecimento. Em qualquer destas teorias, temos sempre acesso ao conhecimento da realidade, tal como ela é. O idealismo de Kant vai realçar o papel do sujeito neste processo.

Razão teórica - Kant apercebeu-se que o sujeito interfere no processo do conhecimento com as suas próprias características (a que ele chama estruturas a priori). Inevitavelmente, em qualquer ato de conhecimento, o sujeito está presente como seu modo de ser e, por isso, quando conhece contamina aquilo que conhece. Kant afirma que há duas formas a priori a condicionar a sensibilidade: o espaço e o tempo. Vejamos o que acontece com a noção de tempo: todos sabemos o que ele é porque estamos habituados a medi-lo nos relógios e a senti-lo no rolar dos dias e dos anos. No entanto, não conseguimos captar o tempo através de nenhum sentido - não o vemos, não o ouvimos, não o tocamos. Como adverte Santo Agostinho, se nos perguntarem o que é o tempo não sabemos defini-lo. O mesmo acontece com a noção de espaço. Kant conclui, então, que o tempo e o espaço são estruturas a priori da sensibilidade do sujeito, que estão sempre presentes, quando nos referimos aos objetos, pois não conseguimos conhecê-los sem ser no tempo e no espaço.

A sensibilidade é a porta de entrada para o conhecimento racional, ou entendimento, que atinge o nível mais elevado de rigor e verdade na ciência. No conhecimento científico usamos um conjunto de noções - causa, substância, relação necessária, lei universal, etc. - que não são retiradas da experiência concreta. E, no entanto, todas estas noções são fundamentais para formularmos as leis que regulam a realidade que nos rodeia. Por isso, se essas noções não se fundamentam na realidade, fundamentam-se em nós próprios. Kant chamou-lhes categorias do entendimento, pois definem o nosso modo de fazer ciência. Elas seriam diferentes se nós fôssemos diferentes.

Mas não bastam os elementos a priori para o nosso conhecimento da realidade. É necessário que os nossos sentidos nos forneçam os elementos recolhidos das coisas (os fenómenos) e que, por isso, são a posteriori. O verdadeiro conhecimento só acontece quando se dá a síntese entre o a priori do sujeito com a posteriori do fenómenos. Como diz Kant, as formas a priori são vazias e por isso, não produzem conhecimento válido, apenas conhecimento ilusório; os fenómenos recolhidos pela sensibilidade são cegos e por isso, incapazes de produzir conhecimento científico.

O conhecimento metafísico será possível? - Interroga-se Kant.

De facto, ele pretendia salvar a metafísica dos ataques dos empiristas. No entanto, a crítica a que submeteu o funcionamento da razão levou-o a concluir que as noções transcendentes de Deus e homem imortal, sendo apenas evidentes a priori não tendo qualquer fundamentação a posteriori, incorrem, inevitavelmente, no campo do conhecimento ilusório. Conclui, assim, que a metafísica não é possível como ciência.

Afinal, que é que nós podemos saber acerca do mundo e das coisas? Kant acha que as coisas, tal como são em si mesmas (númenos), são inacessíveis ao nosso conhecimento. Só podemos conhecer os fenómenos captáveis pelos nossos sentidos, e, mesmo assim, filtrado pelas nossas estruturas a priori. Dito de outro modo, o nosso conhecimento é relativo, pois depende de nós.

Este relativismo kantiano diferencia-se do relativismo dos sofistas no seguinte: para estes, contemporâneos de Sócrates, cada pessoa conhecia de acordo com a sua realidade; para Kant o relativismo é idêntico para todos 0s homens, uma vez que, a razão humana é idêntica em todos. Pode contestar-se esta identidade, dando razão aos sofistas. Mas, a verdade é que, no domínio da matemática, ninguém aceita a possibilidade do relativismo nas conclusões obtidas por coerência lógica. O teorema de Pitágoras é valido, seja onde for e quando for.

A Razão Prática - A fundamentação da moral constituía, desde Descartes, um problema para a filosofia. É certo que os grandes filósofos gregos já se tinham debruçado sobre as questões da Ética (= Moral). O cristianismo - como aliás, todas as religiões - apresentava um código de moral alicerçado na sua teologia. Descartes pretendeu refazer esse código em bases racionalistas, mas limitou-se a apresentar normas provisórias de moral. Mais tarde, Rousseau atribuiu ao sentimento a origem da moral. Kant repensou os fundamentos da moral e concluiu que devem estabelecer-se numa outra vertente da razão humana, diferente da que nos faz pensar. Quer isso dizer, que é tão natural ao homem ser moral como ser racional. E se a razão humana é idêntica em qualquer homem, enquanto raciocina, também o é, enquanto estabelece normas morais.

A noção de dever adquire na moral kantiana um lugar central que se relaciona com o seu caráter obrigatório. Fazer alguma coisa por dever significa que não devem ter-se em linha de conta as implicações, vantagens ou inconvenientes, daí resultantes. Sendo assim, a moral kantiana é uma moral formal, independente de objetivos externos, impõe-se por si mesma, tal como o resultado de uma expressão matemática. Esta moral formal liberta-se das influências da sociedade e da religião e radica na própria estrutura do homem.

O imperativo categórico é a fórmula em que se traduz, de modo prático, a moral formal: "procede de tal modo que a tua ação possa transformar-se em modo de conduta universal". O imperativo implica uma exigência de ação e, por isso, não depende da vontade do sujeito. A vontade é boa somente quando ordena a si mesma que proceda por dever, de acordo com o imperativo categórico.

A moral kantiana insiste muito na importância da intencionalidade da ação.

Significa isto que a moralidade da ação está dependente do motivo que nos decide a realizá-la. Assim, um comerciante que pratique preços justos para atrair a clientela ou por medo da fiscalização, não está a agir normalmente bem. Mas outro comerciante, que é justo, apenas porque acha que deve sê-lo, realiza uma ação moralmente válida.

Tem-se acusado Kant de fazer uma moral de "boas intenções". A verdade é que, se todas as pessoas procedessem de acordo como imperativo categórico, a sociedade eliminava a maior parte das ações que prejudicam a convivência, e também muita hipocrisia.

 

DO ABSOLUTISMO AO ILUMINISMO






DO ABSOLUTISMO AO ILUMINISMO

 

O absolutismo régio estabeleceu-se na Europa a partir do Renascimento, em consequência do crescente poder real, à custa do enfraquecimento do poder dos senhores feudais. Em Portugal, o absolutismo começou com D. João II (1455-1495) que recorreu a todas as estratégias, desde a introdução da inquisição às queixas dos procuradores dos concelhos, para fortalecer o poder régio e demolir o poder económico e político da casa de Bragança e de muitos outros nobres.

A concentração dos três poderes (Legislativo, executivo e judicial) nas mãos do rei tinha a sanção da Igreja que defendia que todo o poder vem de Deus e, por isso, o rei gozava duma iluminação divina especial, que garantia o acerto de qualquer decisão sua.

Não era difícil prever que tal concentração de poderes desse origem ao despotismo régio. Foram alguns autores iluministas, como Voltaire, Rousseau e Montesquieu, os grandes críticos dos desvios do absolutismo régio e, concomitantemente, ideólogos da Revolução Francesa.

 O Iluminismo foi um movimento cultural que dominou o Ocidente, no século XVIII. A filosofia das Luzes baseava-se no cartesianismo e no valor atribuído à razão (a deusa Razão) como faculdade capaz de atingir a verdade natural e a verdade transcendente, sem precisar da ajuda da fé. O homem atingira, finalmente, a maioridade. O Sol era a imagem preferida pelos iluministas para falarem da razão.

Não deixa, contudo, de ser caricato que o pensamento livre e soberano dos iluministas tenha dado abertura ao absolutismo, uma das maiores aberrações sociais do Ocidente. Kant, apesar de inserido no iluminismo, valorizando a razão como fundamento do conhecimento científico e da moral, demarca, na sua Critica, os limites da razão, incapaz de conhecer as essências das coisas e tudo o que se situa para além do observável. Afinal a deusa Razão tinha pés de barro. O desacordo de Kant com o absolutismo régio revela-se, também, no valor atribuído à autonomia da vontade individual e no entusiasmo com que saudou a Revolução Francesa.

RENASCIMENTO









 
RENASCIMENTO

 
A RUTURA DE DESCARTES COM A CULTURA DA ÉPOCA – A DÚVIDA METÓDICA – A PRIMEIRA EVIDÊNCIA: PENSO LOGO EXISTO – SEGUNDA E TERCEIRA EVIDÊNCIAS - O HOMEM CARTESINO

 
Se Galileu é justamente considerado o fundador da Ciência moderna, cabe a Descartes a designação de fundador da Filosofia moderna porque criou um sistema que entra em colisão frontal com a Filosofia aristotélica.

Descartes (1596-1650) - O século em que Descartes viveu representa a decadência do espírito renascentista, iniciado há mais de um século, com a influência marcante das consequências dos descobrimentos. Por toda a Europa havia um ceticismo resultante do encontro de novas terras, novas culturas e novos valores bem expresso nos Ensaios de Montaigne e na obra de Francisco Sanches. A ciência, em virtude do contributo de Galileu, vai-se libertando do domínio da filosofia e liga-se cada vez mais à técnica.

A rutura de Descartes com a cultura da sua época - Apesar de educado de acordo com a filosofia escolástica, que se tornara aristotélica desde o século XIV, Descartes rompe com este modo de pensar ao escrever o célebre Discurso do Método. Na primeira parte, submete todos os aspetos da cultura da sua época a uma crítica subtil, mas contundente. Rejeita o saber livresco renascentista, por ser muito afastado da realidade, rejeita os ensinamentos da lógica porque não servem para nada, rejeita o estudo das línguas antigas porque viajar ilustra mais sobre o mundo, rejeita a teologia porque o seu objeto (Deus) é de tal modo transcendente que o esforço dos teólogos é inútil. Acerca da filosofia acha que se envolve em tantas opiniões contraditórias que não garante nada com certeza. Apenas a matemática lhe aparece bem estruturada, embora não veja nela qualquer utilidade.

 A dúvida metódica - Empenhado em encontrar fundamentos sólidos para a filosofia, Descartes teve a intuição de um método radical. Supôs, como hipótese, que qualquer realidade ou afirmação, que oferecesse a menor razão para duvidar, era falsa e, por isso, não podia ser estabelecida como fundamento seguro. Duvidou dos dados dos sentidos, porque frequentemente nos induzem em erro. Duvidou dos conhecimentos adquiridos até então, porque eram contraditórios. Duvidou da realidade do seu próprio corpo, porque, quando estamos a sonhar, apresentam-se-nos coisas que são claramente falsas e que podem continuar a sê-lo quando acordados. Imaginou a existência de um génio maligno, que se divertisse a incutir-nos como certezas evidentes, coisas que são falsas. Esta dúvida radical de Descartes é frequentemente considerada um exagero.

Regras do Método - Descartes adverte que a sua dúvida faz parte de um método cujo objetivo é atingir a verdade. Nisto, diferencia-se bem da dúvida cética cujo objetivo é a própria incerteza. O método cartesiano (de Descartes) tem quatro regras, baseadas na estrutura da matemática, ciência que, como vimos, ele admirava. A primeira regra é a da evidência: não devemos aceitar nada no nosso pensamento que não nos apareça tão claro e distinto que não ofereça a menor hipótese de o pormos em dúvida. Tal evidência não se adquire através dos sentidos, mas apenas através da intuição. Esta consiste na iluminação interior que afeta o nosso pensamento. A segunda regra é a da análise e consiste em dividir pensamentos complexos em pensamentos simples até se tornarem evidentes. A terceira regra é a da síntese e caracteriza-se pelo caminho inverso da anterior: partimos de pensamentos simples, interligando-os até formarmos pensamentos complexos. A quarta regra é a da revisão e consiste numa última verificação dos passos anteriormente dados para nos precavermos de que o erro não se introduziu inadvertidamente.

A primeira evidência: penso logo existo - Uma vez estabelecido o método e percorrido o caminho da dúvida, Descartes inicia o processo reconstrutivo. Diz ele que não pode ter dúvidas que esteve a duvidar de todas as coisas. Mas, se duvidou, foi através do seu pensamento. Por isso, não pode ter dúvida que esteve a pensar: penso. E se tem a certeza que pensa, necessariamente é alguma coisa que pensa: logo existo. A primeira certeza de Descartes é então a da sua existência como ser pensante (e não, como ser corporal). Ora, o pensamento não é fisicamente captável, é de natureza metafísica. Por isso, a primeira evidência cartesiana é transcendente ao mundo que observamos! o qual, neste passo, está ainda mergulhado na dúvida radical. Ainda que continue a ser ilusão e sonho aquilo que os nossos sentidos nos oferecem, não é de modo algum possível, segundo Descartes, pôr em dúvida a nossa existência espiritual como seres pensantes. (Advirta-se que esta certeza cartesiana é válida apenas para quem a possui e por isso é fundamentalmente subjetiva).

Segunda e terceira evidências - Descartes sentiu grande dificuldade em sair do isolamento da sua própria certeza. Fez então o caminho inverso para tentar reconstruir um mundo idêntico ao que rejeitara, mas solidamente construído. Se esteve a duvidar é porque é um ser imperfeito pois, se fosse perfeito, teria certezas e não dúvidas. Mas como é que lhe surgiu a ideia de perfeição sendo ele imperfeito? De si próprio não pode ter surgido porque não possui a perfeição. Muito menos pode ter surgido do mundo que o rodeia, pois apresenta-se-lhe igualmente imperfeito. Então, conclui, só pode ter surgido de quem possui a perfeição, isto é, de Deus, a segunda evidência. A passagem da ideia de perfeição para a existência do Ser perfeito = Deus, é justificada porque se o Ser perfeito não existisse faltava-lhe a perfeição de existir que é, claramente, superior à não existência. (Não é difícil detetar um sofisma neste argumento).

Garantida a existência de Deus, Descartes passa a demonstrar a existência do mundo exterior, tendo sempre presente o critério da evidência. No entanto, tem dificuldade em justificar a diversidade dos corpos, reduzindo-os à identidade que lhes advém de serem substância extensa.

 O Homem cartesiano - Platão tinha definido o Homem como uma dualidade: a alma, preexistente ao corpo e proveniente do mundo das Ideias, era uma substância que foi condenada, por um motivo desconhecido, a viver encarcerada no corpo. Este fazia parte do mundo sensível e mantinha com a alma uma relação de "mau companheiro". Descartes, por um lado, não aceitava este dualismo platónico, por outro, ao considerar o pensamento como primeira evidência e o corpo como terceira evidência, acaba por incorrer na perspetiva platónica. De facto, se o pensamento implica a existência da alma como substância pensante e se o corpo é apenas substância extensa, idêntica a qualquer outro corpo, não se vê possibilidade de afirmar a unidade do Homem.

O mecanicismo cartesiano - Se todos os corpos se identificam como substância extensa, como explica Descartes as diferenças observadas? Apenas pela maior ou menor complexidade da interligação das diferentes partes. Assim, uma nora para tirar água de um poço é menos complexa que um moinho de vento ou um tear mecânico. O corpo dos animais é muito mais complexo que as máquinas construídas pelo Homem. O corpo humano é, segundo Descartes, a máquina mais complexa que tem, inclusivamente, uma relação íntima com a alma. Mas não passa de uma máquina. Esta perspetiva origina o mecanicismo que influenciou muito a corrente de medicina que observa o corpo do doente sem atender aos seus aspetos psicológicos.

A influência de Descartes - A filosofia cartesiana representa uma clara rutura com o pensamento da época, ainda sob o domínio da filosofia aristotélica. A partir de Descartes as marcas da teologia vão sendo abandonadas e a linha da interioridade, construída na primeira pessoa, impõe-se aos grandes pensadores.

A filosofia de Descartes deu origem a um movimento de seguidores que ficaram conhecidos como racionalistas, graças a importância atribuída à razão e ao menosprezo pelos dados dos sentidos, no processo de conhecimento. As verdades metafísicas (Deus, alma imortal) tinham a maior evidência e eram a garantia de todas as verdades. Em oposição ao cartesianismo, surgiu em Inglaterra, um movimento a que se chamou empirismo (defendia a maior importância dos sentidos no processo do conhecimento) iniciado por J. Locke e radicalizado por David Hume. A Filosofia do século XVII foi dominada por estas duas correntes antagónicas. No século seguinte, o século do iluminismo, Kant vai criar uma via alternativa, marcando um dos momentos mais altos da história do pensamento.

RENASCIMENTO - GALILEU





RENASCIMENTO

 

INVENÇÃO DA IMPRENSA – A ARTE RENASCENTISTA – OS DESCOBRIMENTOS – NICOLAU COPÉRNICO – FRANCISCO BACON -GALILEU

 

O Renascimento foi um movimento cultural que nasceu em Itália no séc. XIV e que se estendeu pela Europa latina, nos séc. XV e XVI. Caracterizou-se pela motivação dos nobres por assuntos culturais que, assim, deixaram de ser apenas reservados aos clérigos. Com a laicização, abriu-se o leque das preocupações culturais. Surgiu um grande entusiasmo pelos autores pagãos, gregos e latinos (os clássicos antigos), cujas obras eram estudadas cuidadosamente. O homem passou a ser o principal objeto de estudo dos renascentistas, passando os temas teológicos para segundo plano.

A invenção da imprensa, em meados do séc. XV, por Gutemberg, foi um preciso meio técnico para a difusão das obras antigas.

 A arte renascentista deixou em Roma e noutras cidades italianas, inúmeras obras de pintura e escultura, feitas de acordo com os códigos antigos e que tinham sido esquecidos durante o milénio medieval. Miguel Ângelo, Rafael, Leonardo da Vinci são pintores renascentistas de valor perene.

 Os Descobrimentos do novo mundo, em que os Portugueses foram protagonistas, contribuíram também, de modo importantíssimo, para a fragmentação do domínio teológico. É de realçar o papel impulsionador do Infante D. Henrique, criador da escola de Sagres, onde se preparavam os navegadores.

A descoberta de novas terras, (totalmente desconhecidas na época e que representavam mais de meio mundo), o encontro com novas culturas no Oriente e a confirmação de que a terra era redonda, tudo isto veio baralhar o pensamento monolítico medieval. Ao mesmo tempo, rasgaram-se, espantosamente, os horizontes da cultura, com motivações de natureza económica (a "dilatação do império" e a viagem ao Oriente por mar, para comprar especiarias) e de natureza religiosa (a "dilatação da fé" e o combate aos infiéis).

Os Descobrimentos, com a dominação portuguesa (e espanhola) nas costas e mares da África, América e Ásia, constituem, sem a menor dúvida, não só o começo da expansão marítima da Europa e da cristandade, mas são também um dos marcos mais visíveis a separar o mundo medieval do mundo moderno.

 Nicolau Copérnico (1473-1543) deu a grande machadada no pensamento escolástico medieval, com a obra "As revoluções das orbes celestes”. Servindo-se da linguagem autónoma da matemática, partiu da hipótese de que o movimento dos astros se processava à volta do Sol (heliocentrismo) e não da Terra (geocentrismo) E concluiu que assim tudo se explicava de modo mais simples. Ora Deus, inteligência pura, tinha de fazer o Universo do modo mais simples possível.

Quando os inquisidores concluíram que o livro de Copérnico escondia uma heresia já não foram a tempo de massacrar o herege, porque a morte antecipara-se.

 Francisco Bacon (1561-1626) construiu as tabelas de presença e ausência dos fenómenos iniciando assim o experimentalismo, desconfiando da evidência imediata dos sentidos e da física aristotélica. 

 Galileu (1564-1642). Se não fossem os senhores da Inquisição a condenar Galileu, por causa da sua defesa do heliocentrismo, provavelmente, o nome deste pensador italiano não apareceria tão intimamente ligado a este aspeto da ciência moderna. De facto, Galileu deixou-se seduzir de tal modo pela teoria de Copérnico que começou a ensiná-la aos seus alunos na Universidade de Pádua e a fundamentá-la experimentalmente, através da "Iuneta astronómica" - um telescópio rudimentar que ele inventou para mostrar que na lua ({havia montes e vales)} e não era uma substância vítrea, como dizia Aristóteles. Porém, as suas provas não eram tão concludentes que bastassem para convencer muitos cientistas da sua época, tais como o astrónomo Tycho Brahe, dinamarquês, que discordava de Copérnico.

O maior contributo de Galileu para a ciência moderna foi, sem dúvida, a matematização do real. Constatando a inutilidade da pesquisa especulativa e silogística dos aristotélicos, à procura de essências e substâncias, rejeitou essa tarefa e teve a intuição de que o Universo, feito por Deus todo-poderoso, tinha de ter uma estrutura tão coerente e lógica como a própria matemática. Além disso, o conhecimento matemático eliminava de vez as disputas intermináveis dos filósofos escolásticos, muitas vezes sobre questões de "Iana caprina'. Ao restringir o campo de investigação científica à perspetiva quantitativa, Galileu pôs de parte as questões acerca das substâncias (por serem inacessíveis) e das qualidades (por serem subjetivas).

Poder-se-á dizer que Galileu se limitou a ressuscitar a velha teoria dos pitagóricos da base matemática da realidade? De modo nenhum. Galileu, antes de construir uma teoria matemática interpretativa da realidade - hipótese - observava criticamente a natureza, procurando desocultar os segredos do rigor das suas leis. A observação racionalizada podia até estar em contradição com a evidência imediata (como acontece com o movimento não sensível da Terra), mas Galileu, quando elaborava a hipótese, trabalhava sobre os dados criteriosamente recolhidos, não se deixando impressionar ou distrair pelos aspetos não quantificáveis. Havia assim uma dupla garantia de verdade: a dos sentidos e a da razão, em recíproca vigilância. Galileu conjugou bem o experimentalismo de Bacon com o matematismo de Copérnico.

O entusiasmo de Galileu pelo seu novo método levou-o a dizer que a ciência matematizada era um caminho mais rigoroso do conhecimento de Deus que a própria Bíblia, (que está escrita numa linguagem figurativa, adequada aos ignorantes), enquanto que a linguagem matemática permite conhecer as leis do Universo, tais como Deus as elaborou.

Galileu ainda não estava satisfeito. Para evitar um matematismo desviado da realidade concreta, era preciso submeter a hipótese à experimentação para verificar a sua adequação. Criou então alguns modelos mecânicos (ou instrumentos laboratoriais, como o plano inclinado e o telescópio) capazes de garantir, pela repetição da mesma experiência um grande número de vezes, que o fenómeno obedecia rigorosamente à hipótese. Se tal não acontecesse, a hipótese mantinha o seu valor na matemática pura, mas seria preciso investigar mais e melhor para encontrar a lei da natureza que se procurava.

Galileu revelou uma intuição genial na aposta que fez no novo método. Quando contestou a física de Aristóteles, e o geocentrismo não tinha garantias suficientes da verdade da sua opinião. Podia ter falhado, mas não. Abriu o caminho para a ciência que se manteve, quase sem contestações, até meados do século XIX. Na ciência, como na vida, além de um esforço muito persistente, e de muitos conhecimentos, é também preciso um pouco de sorte.

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A IMPORTÂNCIA CULTURAL DA IGREJA NA IDADE MÉDIA







A IMPORTÂNCIA CULTURAL DA IGREJA NA IDADE MÉDIA
 
 
A importância cultural da Igreja na Idade Média é tanto mais de assinalar quanto é certo que os nobres de então desdenhavam a cultura. Criaram-se escolas junto das catedrais e, no século XII, surgiram as primeiras universidades (D. Dinis fundou a primeira em Lisboa, em 1290).
As catedrais góticas, talvez a criação mais genial da Idade Média, são cons­truções enormes, com colunas harmoniosas terminadas em arcos em ogiva que sustentam as abóbadas altíssimas, iluminadas por enormes janelas com vitrais policromos. Além duma religiosidade espantosa, as catedrais góticas têm as marcas duma beleza austera e duma elegância inultrapassáveis. Foram erigidas em muitas das grandes cidades europeias, desde o século XII ao século XV e revelam um grande desenvolvimento da arquitetura, da alvenaria e da arte de vidraria. (O nosso mosteiro da Batalha é um modelo da perfeição gótica).
 
 
Vimos que a filosofia platónica serviu de base às intenções apologéticas de santo Agostinho e dos padres da Igreja que se seguiram. S. Tomás de Aquino, no século XIII, teve conhecimento do pensamento de Aristóteles através de filósofos árabes e apercebeu-se que o seu realismo valorizador do homem como um todo (o homem é um animal racional) se ajustava às necessidades de fundamentação da rejeição de certas heresias do seu tempo. Começou a servir-se deste filósofo retorcendo-lhe o pensamento, de acordo com as necessidades das demonstrações teológicas. O pensamento filosófico perdeu assim uma das suas principais características - a autonomia.
 
 
A ciência não se desenvolveu na Idade Média porque se aceitava, ingenuamente, que já se sabia tudo. Aristóteles fizera a síntese dos físicos anteriores, dizia que a terra era imóvel, que todos os astros eram feitos duma substância vítrea e giravam à sua volta (geocentrismo) o que veio a ser confirmado matematicamente, pelo astrónomo Ptolomeu no século lI. A Bíblia sancionava esta teoria evidente.
 
 
Qualquer inovação era remetida para a bruxaria, como acontecia com os alquimistas que se esfalfavam à cata da pedra filosofal, capaz de transformar pedras em ouro. Ainda assim, para evitar a divulgação das heresias que nasciam como cogumelos, a Igreja criou a Inquisição no século XII, (uma das maiores nódoas da sua história), que se manteve ativa, na punição violenta dos dissidentes, em várias nações europeias, até ao século XVIII.
Só a matemática continuava a desenvolver-se tranquila e inofensiva, por ser uma ciência especulativa.
 
 


 

IDADE MÉDIA – (SÉC.V A SÉC. XV –



IDADE MÉDIA – (SÉC.V A SÉC. XV –
 
Foram várias as causas da queda do Império romano: as lutas pelo poder; a extensão imensa do Império, que dificultava a eficaz resolução de revoltas nas Províncias (que já tinham provocado a divisão do Império em dois - o do Ocidente, com sede em Roma e o do Oriente, com se de em Constantinopla); a decadência dos costumes, sobretudo da classe nobre. As invasões dos bárbaros - povos aguerridos vindos do Norte da Europa (germanos, russos, escandinavos) - são apontadas como a causa próxima da queda de Roma, em fins do século V e da desagregação do Império do Ocidente, o que marca o início da Idade Média.
Os diversos povos bárbaros determinados pela sanha do poder e da riqueza, alastraram por todas as Províncias da Europa Ocidental, cometendo as maiores atrocidades. Como o seu nível cultural era significativamente inferior ao dos romanos, deu-se uma grave decadência cultural que ensombrou vários séculos de Idade Média. A maior parte dos chefes bárbaros nem sequer sabiam ler nem manifestavam qualquer interesse em aprender. As suas preocupações esgotavam-se na guerra e nos torneios de cavalaria. A única exceção foi a Igreja que se serviu da sua cultura para influenciar os novos dirigentes que se iam convertendo ao cristianismo.

Os cristãos tinham sido objeto de várias perseguições pelos imperadores romanos. No século IV, o imperador Constantino legalizou a liberdade de culto religioso. No século V, Santo Agostinho, dotado duma inteligência arguta e conhecedor da filosofia de Platão (estudada em Roma), estabeleceu uma estreita relação entre o platonismo e o cristianismo, designadamente no valor atribuído à alma, aprisionada no corpo, o grande responsável por todas as apetências pecaminosas. Esta perspetiva, conjugada com as convulsões políticas resultantes das invasões bárbaras, gerou um movimento, que alastrou a toda a cristandade, de eremitas e ascetas que se isolavam dos prazeres do mundo, vivendo no cimo das montanhas. Construíram-se também grandes conventos, povoados de centenas de monges que se entregavam à oração, ao cultivo das terras, (que lhes eram distribuídas pelos reis), às artes e à cópia de livros antigos, gregos e latinos, salvos da voracidade dos bárbaros, prestando assim, sem o saberem, um inestimável serviço à cultura renascentista e posterior.
Mas os povos não viviam em serena paz. Os muçulmanos (ou árabes, ou sarracenas) discípulos de Maomé (séc. VII), vindos do Médio Oriente, foram conquistando o Norte de África, desorganizado após a queda do Império romano. No início do século VIII, atravessaram o Mediterrâneo e rapidamente tomaram a Península Ibérica, enfraquecida pelas constantes desavenças entre os vários reinos. Ficou apenas um núcleo de resistência nas montanhas das Astúrias (a Norte de Espanha). Aqui se iniciou a longa Reconquista.

Por causa da luta contra os mouros, defendida e abençoada pelos papas (que incentivavam os nobres medievais a participar nas Cruzadas, a fim de libertar os lugares Santos do domínio turco) chegaram ao Condado Portucalense, no início do século XII, vários cavaleiros franceses, entre os quais se contava o conde D. Henrique, a quem o rei de Castela deu em casamento a sua filha D. Teresa e o condado como dote. Deles nasceu O. Afonso Henriques que transformou o condado em reino independente em 1143 - Portugal -, alargando os seus domínios até ao rio Tejo conquistando aos mouros novas terras, com destaque para Lisboa. A tomada definitiva do Algarve só foi conseguida por D. Afonso m em 1249.

A presença dos árabes em Portugal durou cerca de 400 anos e ficou assinalada em muitos vocábulos, frequentemente começados por Al: Algarve, Alzira, alguidar. No entanto, o entrosamento das culturas não chegou a ter a intensidade que acontecera com os romanos.
 
 
 

 
 
                                                                                                                                                     



 

CULTURA ROMANA





CULTURA ROMANA

 Aceita-se, geralmente, o ano de 753 (A.C.) como data da fundação de Roma, envolta na lenda dos dois irmãos, Rómulo e Remo, alimentados por uma loba. Após um período de monarquia, instituiu-se a República no ano 509 (A.C.), onde se destacava o Senado, como órgão de soberania. Cada classe, incluindo o povo, escolhia os seus representantes (os senadores). No Senado, discutiam-se e aprovavam-se as leis, analisava-se o estado das várias Províncias do Império e, quando havia perturbações em alguma parte, nomeava-se um cônsul com poderes extraordinários (ditatoriais) para resolver a situação, durante um período de seis meses. No século I A.C., Júlio César, um general e estadista invulgar, com grande apoio do povo, começou a retirar poderes do Senado e, por isso, foi assassinado por um grupo de senadores invejosos e despeitados. Os imperadores que se seguiram a Júlio César, a começar em Octávio, adquiriram o título de Augusto, reservado aos deuses.

Quando os romanos conquistaram a Grécia, no século 11 A.C., ficaram espantados com o desenvolvimento grego e importaram para Roma não só o espólio da vitória como também vários aspetos da cultura grega, sobretudo a arte, a filosofia e a religião. Dotados de espírito dominador construíram um grande Império que rodeava o Mediterrâneo (o “mare nostrum") e se estendia desde a Península Ibérica até ao Egito, e que se manteve mais ou menos unido, durante cinco séculos. Um dos fatores que contribuiu muito para que o Império romano se mantivesse unido e imenso, durante tantos séculos, foi o respeito pelos chefes e tradições dos locais que conquistavam.

 Os romanos incrementaram o desenvolvimento do Império em vários aspetos. As vias romanas ligavam as grandes cidades do Império, desde a Península Ibérica até ao Médio Oriente, daí a expressão, «todos os caminhos vão dar a Roma». É fácil avaliar a importância destas vias para o intercâmbio comercial e cultural. Além disso, através delas, os exércitos romanos acudiam prontamente a qualquer revolta numa Província. Por elas seguia a comitiva do cônsul nomeado pelo Senado e dotado de poderes extraordinários, (válidos durante seis meses) para restabelecer a paz. A organização política e administrativa e o direito dos cidadãos estavam regulamentados em sábia legislação, desenvolvida pelos tribunos, e tão bem elaborada que, ainda hoje, há muitas normas em vigor em várias nações ocidentais, derivadas do “jus romanum”.

A Língua latina foi, sem dúvida, um dos campos onde a romanização se fez sentir de modo mais duradouro. O português, o espanhol, o francês, o italiano e o romeno têm uma dependência do latim incomparavelmente maior do que das línguas autóctones ou de qualquer outra de povos invasores. São as línguas latinas.

CULTURA GREGA – ARISTÓTELES -


 



 

CULTURA GREGA – ARISTÓTELES -

 

 Aristóteles nasceu numa ilha grega, no ano em 384 a.c. Foi estudar parél Atenas, onde frequentou a Academia de Platão, durante cerca de vinte anos, primeiro como aluno er depois, como professor. Por isso,· não admira que os grandes temas da filosofia destes dois filósofos sejam idênticos.

 Tal como Platão, Aristóteles parte do dualismo gnosiológico: é evidente que temos dois tipos de conhecimento, o sensível e o inteligível. Mas a explicação platónica implicava o mundo das Ideias. Aristótetes assumiu uma posição mais objetiva, trouxe Platão do céu à terra, criando as teorias da abstração e da generalização para explicar esse dualismo.

 Abstração - É o processo de afastamento gradual da realidade concreta, captada pelos sentidos. Deste modo, ficamos apenas com os elementos gerais ou essenciais das coisas e perdemos os pormenores da sensibilidade. O intelecto forma assim os conceitos que são sempre abstratos e se tornam os primeiros elementos de toda a atividade do pensamento. Por este processo, Aristóteles resolve os problemas das diferenças entre os dois tipos de conhecimento e considera inútil a teoria platónica das Ideias.

 Generalização - Uma vez construído o conceito, por abstração, o intelecto pode usá-lo em novas situações, num processo de universalização, extremamente enrique­cedor. A generalização permite-nos organizar os conceitos, formando juízos (frases) e amplificar o campo da sua aplicação de tal modo que o conhecimento se vai alargando, a partir do que já foi anteriormente conhecido, sem ser preciso admitir a teoria da reminiscência de Platão. Destruída a teoria das Ideias e a da reminiscência, deixa de ter fundamento o dualismo cosmo lógico e o dualismo antropológico.

 A lógica de Aristóteles foi uma reflexão tão aprofundada sobre o modo de fun­cionamento do pensamento humano que se manteve quase inalterável até aos nossos dias. Analisa pormenorizadamente os conceitos, os termos (palavras), os juízos, os raciocínios, detendo-se nO silogismo que ele considera o raciocínio perfeito.

 A física de Aristóteles reuniu os conhecimentos dos filósofos pré-socráticos; encontrando uma resposta sincrética para o problema do arqué, nos quatro elementos: água, ar, terra, fogo. Defendeu o geocentrismo por ser evidente. A ciência estuda as essências, é universal e necessária, mas não se fundamenta no mundo das Ideias como em Platão. Ela constrói-se por indução, (vai do particular para o geral) e por dedução, (vai do geral para o particular).

 O homem é um animal racional, constituindo uma unidade que abrange as caracte­rísticas anímicas das plantas, dos animais a que se acrescenta a exclusividade da razão.

 Platão era um filósofo idealista; Aristóteles é um filósofo realista que parte da reali­dade sensível, para subir ao conhecimento mais geral, ou seja, ao conhecimento intelectual. Nunca é demais realçar o seguinte: Platão e Aristóteles, dois dos maiores filósofos de sempre, apesar de terem teorias opostas para explicar a realidade, man­tiveram boas relações de convivência, durante 20 anos, na Academia.



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CULTURA GREGA – PLATÃO -


 



 

CULTURA GREGA – PLATÃO -

 

 Platão nasceu em 428 a.c., em Atenas, numa família nobre. Estudou nas escolas dos sofistas, preparando uma carreira política, que mal chegou a exercer. Escreveu muitas obras, quase todas em forma de Diálogo} onde Sócrates aparece, como a personagem central a expor as teorias do próprio Platão. Fundou uma escola, a Academia, que atingiu grande celebridade na antiguidade.

 Foi muito influenciado por Sócrates (no método e na mora!), pela dialética sofista e pelos pitagóricos (discípulos de Pitágoras) que defendiam a reencarnação das almas.

 
Dualismo gnoseológico: Platão analisa os dois tipos de conhecimento que temos, já defenidos anteriormente, por Parménides: conhecimento sensível, que nOs é dado através dos sentidos, e conhecimento inteligível, que nos permite construir conceitos sintéticos e abstratos que definem as coisas e que se exprimem por palavras.

 Deste dua­lismo do conhecimento, Platão concluiu o dualismo antropológico. Se temos dois tipos de conhecimento - o sensível dependente do corpo, e o inteligível dependente da alma, - e se eles são tão diferentes, então o seu suporte, o corpo e alma, também devem ser dife­rentes. O homem é assim, uma alma encarcerada num corpo. Mas se o conhecimento inteligível é muito mais perfeito que o sensível, também a alma, que o produz, deve sê-lo.

 Platão socorreu-se das influências dos pitagóricos para dizer, de modo pouco filosó­fico, que a alma vivia no mundo inteligível antes de se unir ao corpo que provém do mundo sensível - dualismo cosmológico. As coisas do mundo sensível são apenas sombras do mundo Inteligível. Neste é que estão as essências das coisas, as Ideias, organizadas em forma de pirâmide, de acordo com o grau de perfeição. No vértice da pirâmide está a Ideia de Bem. Na base estão as almas. As Ideias projetam-se sobre as coisas do mundo sensível e, por isso, quando as vemos, a nossa alma pode recordar-se do que contemplou no mundo das Ideias. É a teoria da reminiscência qúe Platão sintetiza assim: «Aquilo a que chamamos aprender não é mais que recordar»} já implícita no método socrático.

 Apesar das críticas pertinentes a muitas teorias de Platão, ele exerceu um a influência constante na cultura, até aos nossos dias.

 Aristóteles nasceu numa ilha grega, no ano em 384 a.c. Foi estudar parél Atenas, onde frequentou a Academia de Platão, durante cerca de vinte anos, primeiro como aluno er depois, como professor. Por isso,· não admira que os grandes temas da filosofia destes dois filósofos sejam idênticos.

 Tal como Platão, Aristóteles parte do dualismo gnosiológico: é evidente que temos dois tipos de conhecimento, o sensível e o inteligível. Mas a explicação platónica implicava o mundo das Ideias. Aristótetes assumiu uma posição mais objetiva, trouxe Platão do céu à terra, criando as teorias da abstração e da generalização para explicar esse dualismo.

 
Abstração - É o processo de afastamento gradual da realidade concreta, captada pelos sentidos. Deste modo, ficamos apenas com os elementos gerais ou essenciais das coisas e perdemos os pormenores da sensibilidade. O intelecto forma assim os conceitos que são sempre abstratos e se tornam os primeiros elementos de toda a atividade do pensamento. Por este processo, Aristóteles resolve os problemas das diferenças entre os dois tipos de conhecimento e considera inútil a teoria platónica das Ideias.

 Generalização - Uma vez construído o conceito, por abstração, o intelecto pode usá-lo em novas situações, num processo de universalização, extremamente enrique­cedor. A generalização permite-nos organizar os conceitos, formando juízos (frases) e amplificar o campo da sua aplicação de tal modo que o conhecimento se vai alargando, a partir do que já foi anteriormente conhecido, sem ser preciso admitir a teoria da reminiscência de Platão. Destruída a teoria das Ideias e a da reminiscência, deixa de ter fundamento o dualismo cosmo lógico e o dualismo antropológico.

 A lógica de Aristóteles foi uma reflexão tão aprofundada sobre o modo de fun­cionamento do pensamento humano que se manteve quase inalterável até aos nossos dias. Analisa pormenorizadamente os conceitos, os termos (palavras), os juízos, os raciocínios, detendo-se nO silogismo que ele considera o raciocínio perfeito.

 A física de Aristóteles reuniu os conhecimentos dos filósofos pré-socráticos; encontrando uma resposta sincrética para o problema do arqué, nos quatro elementos: água, ar, terra, fogo. Defendeu o geocentrismo por ser evidente. A ciência estuda as essências, é universal e necessária, mas não se fundamenta no mundo das Ideias como em Platão. Ela constrói-se por indução, (vai do particular para o geral) e por dedução, (vai do geral para o particular).

 O homem é um animal racional, constituindo uma unidade que abrange as caracte­rísticas anímicas das plantas, dos animais a que se acrescenta a exclusividade da razão.

 Platão era um filósofo idealista; Aristóteles é um filósofo realista que parte da reali­dade sensível, para subir ao conhecimento mais geral, ou seja, ao conhecimento intelectual. Nunca é demais realçar o seguinte: Platão e Aristóteles, dois dos maiores filósofos de sempre, apesar de terem teorias opostas para explicar a realidade, man­tiveram boas relações de convivência, durante 20 anos, na Academia.