EVOLUÇAO HISTORICA DA
CIENCIA DA GRÉCIA ATÉ AO SÉCULO XVII
Os primórdios da ciência devem ser procurados na Grécia, ao lado da
filosofia. Quando Tales de Mileto
(séc. VI a.C.) apresentou a água como elemento primordial que deu origem a
todas as coisas (arqué),estava a dar o primeiro passo no caminho da ciência,
como resposta objetiva para um problema definido. A água é um elemento
concreto, bem determinado, indispensável à vida das plantas e dos animais e
presente nos três estados ( sólido, líquido e gasoso). Tales estava a romper com mentalidade mítica, que explicava tudo
inventando deuses e deusas, ao sabor da imaginação e de algum acontecimento
invulgar.
No mesmo tempo, Pitágoras e os seus discípulos interpretavam
matematicamente a realidade, que era constituída por números e relações
numéricas, como se tivessem a antevisão do que viria a ser uma das principais
características da ciência moderna, a partir de Galileu.
A distinção entre o conhecimento vulgar (doxa) e o conhecimento
racional (epistéme) foi feita por Parménides, no século VI a. C. O seu
empenhamento na valorização do conhecimento racional levou-o a afirmar que não
havia movimento.
Platão aceitou a epistéme e a matematização defendidas pelos
filósofos anteriores, mas remeteu a essência das coisas para o Mundo das
Ideias. A forma mais perfeita era o círculo. As formas das coisas participavam
das Ideias matemáticas. À entrada da Academia de Platão estava escrito:
"Ninguém pode frequentar esta Academia sem saber matemática ", O
principal motivo do entusiasmo de Platão por esta ciência, terá sido o rigor do
raciocínio matemático, disciplinador do pensamento.
Aristóteles não concordava com Mundo das Ideias platónico. Atribuiu
à ciência as características seguintes:
a) É um conhecimento universal, isto é, válido para qualquer
observador:(não há ciência do particular);
b) É um conhecimento necessário, isto é, que não sofre mudanças, ao
sabor das circunstâncias: (não se faz ciência do contingente);
c) É um conhecimento essencial, isto é, voltado para os aspetos
substanciais (não se faz ciência acerca do acidental).
d) A ciência constrói-se por indução ou dedução,
A física de Aristóteles reuniu os conhecimentos dos filósofos
pré-socráticos; apresentou uma resposta sincrética para o problema do arqué,
falando dos quatro elementos: água ar, terra fogo; elaborou a teoria do
hilemorfismo (matéria e forma) para explicar a individualização dos seres;
definiu substância (aquilo que as coisas são em si mesmas) e acidentes (o modo
como as coisas se nos manifestam), realçando o interesse do estudo das
substâncias, para a ciência. Os seus ensinamentos permaneceram quase
inalterados até Galileu.
No mesmo século lII a.C., viveu Arquimedes que se celebrizou pela descoberta do princípio da
impulsão dos corpos mergulhados num líquido, (que deu origem à interjeição
"eureka '') fundamental para a construção naval e para a construção da
balança hidrostática. Fez descobertas importante no campo matemático que
procurava aplicar em situações técnicas. Atribui-se-lhe a afirmação:
"Deem-me um ponto de apoio e uma alavanca e eu levantarei o mundo ".
Esta aplicação das descobertas científicas ao domínio técnico só teve
seguidores na ciência moderna.
A cultura
romana não
deu grande contributo para o desenvolvimento nem da ciência nem da filosofia:
Os romanos notabilizaram-se na política, na oratória e na estratégia militar. (
Não se pode ter tudo!).
Durante a Idade Média, a
maior parte dos nobres não tinham qualquer motivação cultural: gostavam de
caçar, de fazer guerras, de se divertir. Coube aos monges a tarefa de manter o
interesse pela cultura livresca. As exigências da teologia implicavam o interesse
pela filosofia, pela retórica e pela gramática, sempre em função dos objetivos
teológicos. Dizia-se então: "A filosofia é a escrava da teologia"
porque só se abordavam temas e autores filosóficos, na medida em que tinham
interesse para as questões teológicas. A matemática mantinha-se como um
conhecimento importante e independente tendo-se apenas ligado à astronomia o
que possibilitava a previsão bastante rigorosa dos eclipses. Mas a fisica e a
biologia continuavam a ser capítulos da filosofia e repetiam sem alteração as
ideias de Aristóteles. A química era, sobretudo, objeto da curiosidade dos
alquimistas que procuravam descobertas sensacionalistas, sendo a mais célebre,
a da "pedra filosofa!" , capaz de transformar pedras em ouro.
O
Renascimento (séc. XV e XVI) caracterizou-se pelo despertar dos nobres para a
cultura.(Finalmente!). A laicização abriu o campo das motivações culturais, deixando
as questões de teologia para os clérigos e semeou um grande entusiasmo pelos
autores pagãos, gregos e latinos. abalando o monopólio da teologia.
GALILEU E A
CIÊNCIA MODERNA (Séc. XVIl)
Se não fossem os senhores da Inquisição a condenarem Galileu, por
causa da sua defesa do heliocentrismo, provavelmente, o nome deste pensador
italiano, não apareceria tão intimamente ligado a este aspeto da revolução
cultural. De facto, Galileu deixou-se seduzir de tal modo pela teoria de
Copérnico que começou a ensiná-la e a fundamentá-la experimentalmente, através
da "luneta astronómica" - um telescópio rudimentar que ele inventou
para mostrar que na lua "havia montes e vales" e não era uma
substància vítrea, como dizia Aristóteles. Porém as suas provas não eram tão
concludentes que bastassem para convencer muitos cientistas da sua época, tais
como o astrónomo Tycho Brahe, dinamarquês que discordava de Copérnico e não se
assuntava com a Inquisição.
O grande contributo de Galileu para a ciência moderna foi a matematização do real. Constatando a
inutilidade da pesquisa especulativa e silogística dos aristotélicos, à procura
de essências e substâncias, rejeitou essa tarefa e teve a intuição de que o Universo,
feito por Deus todo-poderoso, tinha de ter uma estrutura tão coerente e lógica
como a própria matemática. Além disso, o conhecimento matemático eliminava de
vez as disputas intermináveis dos filósofos escolásticos, muitos vezes sobre
questões de "lana caprina". Ao restringir o campo de investigação
científica à perspetiva quantitativa, Galileu pôs de parte as questões acerca
das substâncias ( por serem inacessíveis) das qualidades ( por serem
subjetivas).
Galileu revelou uma intuição genial na aposta que fez no novo
método. Quando contestou a fisica de Aristóteles, e o geocentrismo não tinha
garantias suficientes da verdade da sua opinião. Podia ter falhado, mas não:
abriu o caminho para a ciência que se manteve, quase sem contestações, até
meados do século XIX. Na ciência, como na vida, além de um esforço muito
persistente, de muita inteligência, é também preciso um pouco de sorte.
lourencoarm.blogspot.com
Sem comentários:
Enviar um comentário