A MENTALIDADE
MÍTICA
Desde o aparecimento da
Filosofia na Grécia, no século VI a.C. até fins do século XIX, o valor
atribuído à racionalidade contribuiu para a desvalorização da mentalidade
mítica, como se os homens da pré-história tivessem culpa por não serem
filósofos nem cientistas. A antropologia, sobretudo a partir do início do
século XX, foi-se apercebendo da enorme importância dessa fase da humanidade.
Vejamos algumas características do mito.
Os mitos são sincréticos porque
pretendem apresentar uma explicação global para todos os aspetos da realidade a
que se destinam. Este sincretismo implica a não distinção entre símbolo e
realidade.
Os mitos são
antropomórficos. Todas as explicações apresentadas para os problemas
entroncam em figuras humanizadas, que têm as mesmas paixões e defeitos dos
homens, dos quais se distinguem apenas pelas suas extraordinárias capacidades
de força, de resistência às doenças e à morte.
O tempo original. As
narrações míticas remetem, quase sempre, para os tempos primordiais, que deram
origem à realidade mitificada. Por isso, quando se fala do mito há sempre um
recuo a um tempo tão distante da memória comum que a sua verdade é apenas
garantida pela palavra dos antepassados.
Ciência do concreto. O antropólogo francês
Claude Levi Strauss aproxima o pensamento mítico do pensamento científico
realçando o caráter interpretativo das causas dos fenómenos presente, quer na
ciência, quer no mito. A diferença, segundo ele, está apenas no seguinte: a
ciência constrói teorias abstratas válidas para qualquer situação, o mito
constrói explicações concretas para problemas gerais.
Mito e ritual. Uma das características mais surpreendentes do
mito consiste na necessidade que os homens sentiam de entrar em comunhão com as
forças que lhe deram origem. Tudo se passa como se o ritual abrisse um túnel de
ligação entre o tempo presente e o tempo primordial. O ritual repete-se num
determinado tempo e num determinado lugar que adquirem características
sagradas. A realização dos rituais implica, quase sempre, a existência de
pessoas dotadas de poderes sagrados (sacerdotes) que são intermediários entre o
povo e o mito.
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